Os 35 Anos do ECA: Avanços, Desafios e o Papel do Serviço Social
Em
julho de 2025, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 35 anos.
Criado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o ECA
representa um marco na garantia dos direitos das crianças e adolescentes no
Brasil. Essa legislação inovadora consolidou a doutrina da proteção integral,
reconhecendo-os como sujeitos de direitos e não apenas como objetos de tutela
do Estado ou da família.
Ao
longo dessas três décadas e meia, o ECA se tornou uma referência internacional,
mas também enfrentou desafios diante das desigualdades sociais e da necessidade
de políticas públicas adequadas. Neste artigo, vamos refletir sobre a
trajetória do ECA, seus avanços, limites e o papel fundamental do Serviço Social na sua efetivação.
O que é o ECA e qual sua importância?
O
Estatuto da Criança e do Adolescente é a principal legislação brasileira
voltada à proteção da infância e da juventude. Ele estabelece direitos
fundamentais como:
- Direito à
vida e à saúde: Acesso a serviços
de saúde de qualidade.
- Direito à
educação, cultura, lazer e esporte:
Acesso à escola, atividades culturais e esportivas.
- Direito à
convivência familiar e comunitária:
Garantia de um ambiente familiar saudável ou de um acolhimento adequado.
- Direito à
liberdade, respeito e dignidade:
Proteção contra qualquer forma de discriminação e humilhação.
- Proteção
contra violência e exploração: Defesa
contra abusos e o trabalho infantil.
Antes
do ECA, a visão era assistencialista e punitiva, onde crianças e adolescentes
em situação de vulnerabilidade eram tratados como "menores" e muitas
vezes criminalizados. Com a nova legislação, passou-se a considerar que todos,
sem distinção, têm direito à proteção integral.
Conquistas e progressos em 35 anos
Ao
longo das últimas décadas, o ECA possibilitou avanços significativos, tais
como:
- Criação dos
Conselhos Tutelares: Órgãos
municipais responsáveis por zelar pelo cumprimento dos direitos de
crianças e adolescentes.
- Adoção de
políticas públicas integradas:
Fortalecimento da rede de proteção em áreas como saúde, educação e
assistência social.
- Ampliação
do acesso à escola: Redução do
analfabetismo infantil e aumento da matrícula na educação básica.
- Combate ao
trabalho infantil: Com políticas
de prevenção e fiscalização, ainda que persistam desafios.
- Reconhecimento
internacional: O Brasil se tornou
uma referência no campo da proteção legal de crianças e adolescentes.
Desafios e caminhos a percorrer
Apesar
dos avanços, o ECA ainda enfrenta dificuldades para sua plena efetivação. Entre
os principais desafios, podemos destacar:
- Desigualdade
social: Acesso desigual a saúde,
moradia e alimentação para muitas crianças e adolescentes em
vulnerabilidade.
- Violência e
exploração: A persistência de
casos de violência doméstica, sexual, urbana e o trabalho infantil.
- Fragilidade
da rede de proteção: A necessidade
de mais estrutura e recursos para os Conselhos Tutelares e os serviços
públicos de atendimento.
- Judicialização: A sobrecarga do Judiciário com casos que
poderiam ser resolvidos com soluções preventivas nas políticas públicas.
O papel do Serviço Social na efetivação do ECA
O
assistente social atua como um agente estratégico na defesa e
promoção dos direitos previstos no ECA. Sua prática profissional é essencial em
diversos espaços, como escolas, hospitais, unidades socioeducativas, CRAS,
CREAS e conselhos de direitos.
Entre
as principais contribuições do Serviço Social, destacam-se:
- Acolhimento
e escuta qualificada: Auxílio a
crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade.
- Elaboração
de relatórios sociais: Documentos
que subsidiam decisões judiciais e administrativas.
- Articulação
da rede de proteção: Conexão entre
serviços de saúde, educação, assistência social e segurança pública.
- Educação em
direitos humanos: Fortalecimento
da cidadania de crianças e adolescentes.
- Acompanhamento
de medidas socioeducativas: Busca
por alternativas que favoreçam a reintegração social.
Assim,
o Serviço Social reafirma seu compromisso ético-político com a defesa dos
direitos humanos e com a efetivação do ECA como instrumento de cidadania.
Perspectivas para o futuro do ECA
Ao
completar 35 anos, o ECA nos convida a pensar em novas estratégias para
enfrentar os desafios atuais. Algumas prioridades para os próximos anos
incluem:
- Fortalecer
a rede de proteção: Mais
investimentos em políticas públicas.
- Capacitar
profissionais: Treinamento
contínuo para conselheiros tutelares e demais profissionais da rede.
- Garantir
orçamento público: Destinação de
recursos para a infância e adolescência.
- Ampliar a
participação social: Incentivo à
participação de adolescentes em conselhos e fóruns.
- Combater
novas formas de violência: Foco em
questões como cyberbullying e exploração online.
- Promover a
inclusão digital: Garantir o
acesso igualitário à educação e às novas tecnologias.
O
futuro do ECA depende não apenas da lei em si, mas da capacidade da sociedade
de se mobilizar em torno da defesa da infância e da juventude.
Conclusão
Os
35 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente representam uma conquista
histórica para a sociedade brasileira. Mais do que uma lei, o ECA é um
compromisso coletivo com o futuro, pois investir em crianças e adolescentes é
investir em cidadania, justiça social e democracia.
Para
que o ECA seja efetivamente cumprido, é fundamental que Estado, sociedade e
famílias assumam suas responsabilidades. Nesse cenário, o Serviço Social
desempenha um papel central, fortalecendo a rede de proteção e garantindo que
os direitos não fiquem apenas no papel, mas se transformem em realidade.
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